O tempo anda bem doido, e nós também.
Percebo que muita gente sofre com os desequilíbrios do Qi do Fígado.
Eles aparecem como frustração, depressão, irritabilidade, como um sentimento de bloqueio e impedimento, uma sensação de distensão no peito, muitos suspiros ou dor de cabeça.
Fato é que o meu Qi do Fígado nunca foi muito bom.
Encontro muita gente cujo o Fígado nunca foi muito bom.
(Talvez seja porque maisinho atrai maisinho, menosinho atrai menosinho. )
Mas a notícia boa é que hoje, percebo que esse Qi flui melhor.
Então caso você seja um maisinho atraído com desequilíbrio no Fígado, existe a chance de ter também propensão para desestagnar!
Apesar de trabalhar com agulhas e moxa, não tenho receita, mas conto como a medicina chinesa olha para uma parte do Gan, que traduzimos como Fígado; ou melhor para o Shen do Gan, o Hun.
O Shen é uma parte integral do corpo, é a mais sutil das cinco substâncias fundamentais que faz tudo no organismo funcionar. Ele é responsável pelo que diferencia os humanos dos animais; é o responsável pela nossa auto-consciência e o que nos permite moldar nosso próprio destino.
Existem cinco tipos de Shen, cada um mora em um dos cinco Zang, que são os órgãos do corpo. O Hun, mora no Gan, no Fígado e tanto o Shen influencia a parte física do Gan, como a parte física do Gan influencia seu Shen. Mudamos e transformamos no tempo que nossa natureza permite, mas sobretudo dependemos de nossos Shen e certamente podemos usá-lo para desobstruir as estagnações do corpo.
Hun, ou “alma etérea” é a parte do indivíduo que não encontra-se atrelada ao corpo físico. Ele entra no corpo no momento do nascimento e continua a existir quando uma pessoa morre.
O Hun esta relacionado com as “boas ações” realizadas nesta vida que podem permanecer após a morte. Um Hun intacto produz atos benevolentes e gentis em relação ao outro e a si próprio. A bondade humana é uma virtude específica do Hun.
O Hun é o responsável por entender o sofrimento do outro e gerar compaixão. Por conta do Hun, o sofrimento e a dor despertam empatia e benevolência em relação aos outros e a nós mesmos. Sem esta capacidade o indivíduo torna-se entorpecido, incapaz de experienciar as profundezas da sua própria humanidade, ou a do outro.
No nível fisco, o Hun, nos permite a sensação da dor, nos capacita para aceitação do sofrimento. Para ele, a dor não é algo do qual devemos fugir; quanto mais espaço damos para ela, menos ela machuca.
O Hun funciona como catalisador da bondade humana. A consciência do sofrimento desperta nossa benevolência.
Se o Hun não encontra-se intacto, além da possibilidade do indivíduo tornar-se indiferente ou adormecido, por outro lado, ele pode expressar agressividade em relação aos outros, ser auto depreciativo em relação a si mesmo, pode facilmente gerar inveja, ciúmes, raiva ou irritabilidade inapropriada; nestes casos o Hun não consegue olhar para nossas reais necessidades, que poderiam ser satisfeitas se mudássemos nossa abordagem, e surge o pensamento de querer que as coisas sejam da maneira que não são.
O Hun está associado à capacidade de planejamento da vida do indivíduo, tanto para coisas simples e cotidianas como a longo prazo. O Hun traça estratégias para a que seus objetivos sejam realizados. Ele é responsável pela capacidade da visão, é necessária uma boa visão para que seja feito um bom planejamento.
Sem a capacidade visão sobre qual é seu objetivo final, o Hun, não consegue se flexibilizar e criar novas estratégias para alcançá-lo caso surjam percalços no meio do caminho. Ele torna-se rígido e a raiva pode surgir quando o outro, ou o mundo não são da maneira que ele gostaria que fosse. Surgem dificuldades de reconsiderar e adaptar seus planos a realidade da situação.
Um exercício:
O Gan, ou Fígado, na medicina chinesa, é assossiado à imagem de uma árvore (ele corresponde ao Elemento Madeira na teoria dos Cinco Elementos).
A árvore tem suas raízes e tronco que a sustentam, mas seus galhos devem ser flexíveis, dançar conforme o vento. Se a madeira for muito dura, não tiver flexibilidade, ela quebra. Se for flexível, vai pra lá e pra cá, mas permanece íntegra.
Aqui vai um exercício para estimular a flexibilização desses galhos – nossa ideias, pensamentos e pontos de vista.

1. Mantenha os pés paralelos com abertura alinhada aos ombros.
Dobre levemente joelhos.
Imagine que seus pés possuem raízes, que seu tronco corresponde ao tronco da árvore e seus braços aos galhos.
Inspire ao levantar os braços, com as palmas das mãos voltadas uma para outra, para o alto.
2. Expire ao pender seus braços para direita como se fosse uma árvore que recebe um vento vindo da esquerda.
Levemente traga seu quadril para esquerda, apoie o peso do corpo também na perna esquerda, e direcione a parte superiror do corpo para direita.
Mantenha sua mão esquerda acima da cabeça, estique o braço direito e vire a cabeça em direção aos dedos das mão direita quando termina a expiração.
3. Ao inspirar novamente traga os braços novamente para o centro e vire a cabeça para o meio.
4. Repita o mesmo para o lado esquerdo.
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E só para ilustrar:
Gostei muito deste texto! 😊🦋🌸